Em entrevista a CartaCapital, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) diz que ataques dos governistas podem inviabilizar investigações.

Relatora da CPI das Fake News, que investiga a disseminação de informações falsas, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) apresentou seu plano de trabalho na terça-feira 17, em clima de tensão com parlamentares do PSL. Uma das tarefas da comissão é apurar a difusão de fake news durante as eleições de 2018, mas, pela boca de governistas, a investigação é retratada como “CPI da Censura”.

Para Lídice, eles se sentem ameaçados. O pano de fundo é a acusação de que a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) teria envolvimento com o financiamento de disparos de informações falsas pelas redes sociais. Apoiadores do presidente obstruem as sessões da comissão com a justificativa de que a CPI não opera com lisura, já que a oposição ocupa o cargo de relator. O senador Ângelo Coronel (PSD-BA) é presidente.

Entrevistada por CartaCapital, Lídice alerta que os ataques do PSL arriscam a existência da comissão: “Nós temos que fazer um acordo para não inviabilizar a CPI”. Segundo ela, já foram duas sessões em que os trabalhos não avançaram. O primeiro passo da investigação, diz, é delimitar o sentido jurídico de “fake news”. Em seguida, os parlamentares devem ouvir especialistas, jornalistas e autoridades para contribuírem às apurações. Na lista de convidados do governo está a ministra Damares Alves.

CartaCapital: Partidos da oposição se demonstram favoráveis à CPI das Fake News. No entanto, o PSL tem sido crítico e obstruído as sessões. Por que o partido do governo se sente ameaçado?

Lídice da Mata: Eu não sei lhe responder. Eles estão temendo alguma coisa, não é possível. Segundo o que eles expressaram na reunião hoje, o governo só quer atacar. Eu acho que só pode ser isso.

CC: O debate sobre fake news é bastante novo. Quando a senhora começou a ter relação com o tema?

LM: Tive relação como candidata, que teve na sua campanha diversos ataques, fake news. Compreendi, numa dimensão muito menor, que esse era um instrumento difícil de conviver porque caminhava para uma deformação profunda para a democracia.

 

“Qualquer um na posição de presidente da comissão, com a sabotagem cotidiana do PSL, teria dificuldade em conduzir os trabalhos”, afirma Lídice.

 

CC: A senhora acha que a presença da oposição na relatoria faz a CPI perder credibilidade?

LM: Não creio nisso. A CPI serve justamente para fiscalização, para permitir que a oposição faça aquilo que é indispensável no parlamento, que é fiscalizar. Em geral, CPI é instrumento de oposição. São as oposições que, sendo, em tese, minoria, constroem uma forma de investigação e de participação, através de uma CPI. Então, é natural que a oposição possa estar na relatoria de uma CPI.

CC: Comenta-se que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria feito uma demonstração de poder em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao entregar a relatoria para a oposição. Afinal, o presidente da Câmara também é alvo de críticas por bolsonaristas. A senhora acha que o Maia tem interesse em intimidar o governo com esta CPI?

LM: Não acho que ele tenha interesse em intimidar o governo. O que está acontecendo é que o presidente da Câmara tem feito gestos no sentido de afirmar o poder da Câmara como um poder independente, e acho até que poderia ter mais independência ainda do que tem. Eu, pessoalmente, acho que ele poderia ter uma agenda própria, econômica, dissociada das ideias do governo, menos liberal.

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