Rio de Janeiro – Desde a criação do Plano Real, em 1994, até 2010, a pobreza no Brasil caiu 67,3%. É o que mostra a pesquisa Desigualdade de Renda na Década, produzida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada hoje (3) no Rio de Janeiro. Nos últimos dez anos, os 50% mais pobres tiveram crescimento de 69% em sua renda e a renda dos 10% mais ricos cresceu 10%.

O estudo mostra que a pobreza diminuiu em 50,6% durante o governo do presidente Lula, de junho de 2003 a dezembro de 2010, e que, de 1994 a 2002 , a pobreza caiu 31,9%. Ao longo de 2010, a pobreza foi reduzida em 16%.

Para chegar a esses índices, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e também o Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda entre os indivíduos.

A pesquisa indica que os investimentos sociais e o investimento público em educação foram fatores fundamentais para a redução acelerada da pobreza. “O efeito educação é o principal responsável pelo crescimento da renda dos mais pobres em cerca de 40% mais que a dos ricos. A taxa de escolaridade aumentou para esse grupo e isso afetou diretamente na renda”, afirmou o coordenador da pesquisa, Marcelo Néri, que se disse surpreso com os dados.

“Não é uma década excepcional em termos de aumento de renda, mas, em termos de redistribuição de renda, os números surpreendem. A má notícia é que a desigualdade no Brasil ainda é uma das mais altas do mundo e que o desafio ainda é enorme no alcance da meta do milênio de erradicação da miséria. Mas a desigualdade segue em queda, inclusive com mais força”.

“Na minha opinião, assim como os anos 80 foram a década da democratização, os 90 foram a da estabilização, a década passada foi a da redução das desigualdades”, concluiu Néri.

Renda de analfabetos e negros foi a que mais cresceu na última década

A pesquisa sobre Desigualdade de Renda na Década, divulgada hoje (3) pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que a renda dos analfabetos cresceu 47% entre 2000 e 2009, enquanto a renda das pessoas com ensino superior incompleto caiu 17%.

O estudo mostra também que a renda dos negros cresceu duas vezes mais do que a dos brancos, nos últimos 10 anos. No primeiro grupo, a renda ficou 43% maior e, no segundo, o crescimento foi de 21%. A renda das pessoas pardas cresceu 48%. Os estados do Nordeste foram os que mais cresceram em termos de renda per capita (por pessoa).

O coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, atribuiu os resultados à redução da desigualdade no país na última década, que caiu em mais de 50%. Em 2010, a desigualdade ficou 16% menor.

“A desigualdade no Brasil está no seu mínimo histórico, a um nível menor que na década anterior, a de 60. Ainda é um nível inaceitavelmente alto. Agora, a desigualdade no Brasil pode continuar caindo e os pobres poderão viver um crescimento chinês ainda por algum tempo, apesar da economia não apresentar uma dinâmica de crescimento tão forte”.

No Maranhão, o estado mais pobre apontado na pesquisa, a renda cresceu 46%, enquanto em São Paulo, o estado mais rico, o crescimento foi de 7%. Neri explicou que, com exceção do aumento da renda entre analfabetos, o efeito educação e de programas sociais foram as principais contribuições para a redução da pobreza na maioria dos casos.

“A renda dos 20% mais pobres em idade ativa teria crescido 55% só pelo efeito educação. Então, este é disparado o principal efeito, seguido de programas sociais”.

Segundo a pesquisa, a renda das mulheres em idade ativa cresceu 38% no período estudado enquanto o crescimento da renda dos homens foi de 16%. Os efeitos esforço de trabalho e contribuição de programas do governo foram os fatores identificados para esse crescimento.

“As mulheres estão mais presentes no trabalho e trabalhando mais horas e esse crescimento se reflete no aumento da renda. Mas auxílios como o Bolsa Família para as mulheres também contribuíram um pouco para esse resultado”, esclareceu o economista.

(Flávia Villela, Agência Brasil)