A intolerância no Brasil vem crescendo assustadoramente. Em grupos de whatssap é cada vez mais comum discussões acaloradas e até mesmo com ofensas e xingamentos em função de opiniões políticas divergentes. Fora do mundo virtual, provocações, acirramento dos ânimos e a escalada de violência física e verbal também tem sido uma constante.

A poucos dias das brasileiras e brasileiros definirem o próximo presidente da República, essa intolerância política parece estar sem controle. Levantamento inédito feito pela Pública em parceria com a Open Knowledge revela que houve pelo menos 70 ataques em 10 dias no país, de 30 de setembro até ontem.

Em Salvador, Bahia, Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, que viajava pelo mundo divulgando a cultura baiana, foi assassinado após as eleições do primeiro turno no domingo passado com 12 facadas. O crime foi motivado porque Moa disse ter votado no candidato do Partido dos Trabalhadores.

Em Recife, Pernambuco, a servidora pública de 37 anos, Paula Pinheiro Ramos Pessoa, foi espancada também no dia 7 passado num bar, após criticar ideias conservadoras do candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL). Ela fraturou o rádio, fez cirurgia e ficou com hematomas em várias partes do rosto.

Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, uma mulher que não quis se identificar foi alvo de agressões nesta semana por três homens e teve seu corpo marcado com o símbolo nazista da suástica porque usava uma camisa #EleNão.

O delegado titular da 1ª Delegacia de Porto Alegre, Paulo Jardim, disse a uma agência de notícias que os suspeitos de cometer agressão não foram identificados e o desenho não é um símbolo extremista. “Eu fui olhar o desenho que fizeram na barriga dela. É um símbolo budista, de harmonia, de amor, de paz e de fraternidade. Se tu fores pesquisar no Google, tu vai ver que existe um símbolo budista ali”, tentou justificar o delegado de forma estapafúrdia.

Em Natal, Rio Grande do Norte, uma médica que atendia o paciente de 72 anos, José Alves de Menezes, rasgou a receita após o idoso dizer que votou em Haddad para presidente. O incidente aconteceu nesta segunda-feira (8).

Na opinião da dirigente sindical do STIU-DF, Fabiola Antezana, as pessoas estão se transformando e coisas absurdas. “A sociedade, em nome de um antipetismo, que foi pautado pelas forças mais conservadoras do País, está topando qualquer coisa. Então, aparece uma pessoa que se coloca como salvadora da pátria mesmo que para isso possa valer tudo, inclusive violência física e moral”, aponta.

No entanto, Fabiola entende que as pessoas deveriam estar conversando sobre as propostas dos candidatos para resolver os problemas do Brasil. “Que sociedade nós queremos construir e deixar para as futuras gerações? Que exemplos vamos deixar para os nossos filhos? Em qualquer país civilizado, as pessoas debatem em época de eleição esse tipo de coisa”, destaca.

O também diretor do STIU-DF, Victor Frota, aponta para a necessidade de equilíbrio neste momento tão delicado da nossa história. “Apesar de todas essas agressões, precisamos manter o controle e tentar não revidar. Não vamos agir com violência, não somos assim”, defende.