Corte de R$ 50 bilhões não foi “navalha”, mas “massacre de serra elétrica”

O coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg, considerou equivocado o corte do orçamento da União em R$ 50 bilhões. Para o economista, o ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi uma “barbeiragem”. “Não se trata nem de uma navalha, mas de um massacre de serra elétrica”, disse em entrevista coletiva, na quarta-feira (16), para divulgar o boletim Conjuntura em Foco.

Em sua avaliação, o ajuste – que prevê o aumento do superávit primário (reserva para pagamento de juros) – supostamente para permitir a redução da taxa Selic e a desvalorização do câmbio poderá ter um efeito contrário do pretendido. Com a garantia de que terão retorno em suas aplicações, os “investidores” estrangeiros irão inundar o Brasil de dólares valorizando ainda mais o real, o que implica um aumento das importações em um ritmo maior do que as exportações, deteriorando o saldo da balança comercial.

Para o pesquisador do Ipea, com a ideia fixa da equipe econômica no aperto fiscal há o temor no corte de investimentos, base para o crescimento do país, o que poderá levar a uma estagnação econômica. Ele defendeu que o governo tenha uma atuação mais intensa em áreas como infraestrutura urbana, transporte e aeroportos. “O problema do Brasil de hoje não é a dívida pública, é a infraestrutura insuficiente. A solução não é baixar a demanda por conta disso, mas sim resolver os problemas de infraestrutura. E não é isso que estou vendo como centro da agenda do governo”, afirmou.

A mudança de orientação da economia, observou Messenberg, é “perigosa”, uma vez que está influenciada pelos interesses do sistema financeiro, sendo uma tentativa de impor uma agenda que privilegia a questão fiscal em lugar do investimento. “Você começa a privilegiar uma agenda que é do final do século passado, onde se diz que o governo faz o dever de casa e o mercado vai alocar os recursos necessários e o investimento floresce. Não teremos isso nesse caminho”, sublinhou.

Ao destacar que a questão fiscal não é o principal entrave ao crescimento da economia brasileira, o economista ressaltou a necessidade do aumento do investimento público como forma de elevar a taxa de investimento: “Para mim, a agenda está totalmente equivocada. O governo deveria olhar para a taxa de investimento na economia. Fazer poupança pública é diferente de sair cortando só para fazer superávit. Um ajuste fiscal que só pensa nos próprios termos cortará a fonte do crescimento, que deve ser o investimento”.

“Mesmo se o setor externo fosse uma fonte permanente de investimentos não é isso que vai elevar a taxa de investimento”, enfatizou Messenberg, lembrando também que o indicador ficou abaixo de 19% do PIB em no ano passado, bem inferior do que é considerado o mínimo – 25% do PIB – para um crescimento sustentado da economia.

(Hora do Povo)