A luta feminina quase sempre é posta num papel secundário, principalmente num momento de retrocessos e retirada de direitos. Neste sentindo, é essencial resgatar o nome de diversas lutadoras que deixaram a sua marca na história na busca por direitos. Para dirigente sindical do STIU-DF, essas mulheres motivam outras a entrarem e continuar a luta.

Dorothy Stang, Nilce de Souza Magalhães (Nicinha), Berta Cáceres, Celestina Leonor Sales Nunes, Leidiane Souza Soares, Samylla Letícia Souza Muniz e agora Marielle Franco. Todas essas mulheres foram vítimas do latifúndio, agronegócio, milícias, de execução política, de disputa ao direito à terra, água e energia.

O assassinato de Marielle, em pleno mês das mulheres, trouxe a tona uma realidade brutal no Brasil, que constantemente é ignorada pelo poder público. Cotidianamente, dezenas de outras mulheres são sistematicamente silenciadas e invisibilizadas por uma sociedade capitalista e patriarcal. Seja sob condições de desemprego, discriminação, violência doméstica ou relações excludentes de poder.

Na atual conjuntura, a crise do capital impulsiona a corrida rumo ao lucro com a intensificação da exploração dos bens da natureza e do grau de exploração de trabalhadores e trabalhadoras. No entanto, as mulheres, sejam da área rural ou urbana, são particularmente atingidas e têm seus direitos humanos mais brutalmente violados.

A coordenadora nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Daiane Hohn, destaca que foram inúmeras as lutadoras que deram suas vidas em defesa dos povos, dos rios, da floresta, ou seja, em busca de um outro projeto de sociedade que liberte os trabalhadores da exploração e da opressão.

“São lutadoras como Nicinha e Berta que lutaram em defesa dos direitos dos atingidos por barragens aqui no Brasil e em Honduras respectivamente. São Dorothy e Maria do Espírito Santo que lutaram pela preservação ambiental e pelo direito de produzir na terra. São Margaridas, Olgas, Marielles e outras tantas que além da opressão de classe lutavam contra o patriarcado e buscavam a igualdade entre homem e mulher”, lembra Honh.

A dirigente sindical do STIU-DF, Fabiola Antezana, ressalta que as mulheres sempre foram protagonistas em processos importantes. No entanto, a luta feminina quase sempre é posta num papel secundário. “Cada uma destas mulheres deixou sua marca para a história e motiva outras a entrarem e continuarem na luta. Resgatar estes nomes, muitas vezes anônimos, faz jus à história de luta das mulheres e nos ajuda a entender a correlação de forças do capital e trabalho”.

Lutas

“As mulheres estão nas ruas para pautar o direito das trabalhadoras que estão sendo retirado com as medidas antipopulares do atual governo, que nos penaliza ainda mais”, aponta a coordenadora do MAB.

Para Daiane Honh, os direitos das mulheres estão se tornando mercadoria. “Nossa democracia e soberania estão sendo entregues ao capital internacional, que tem se apropriado de tudo que é nosso”, destaca.

Segundo a dirigente do STIU-DF, Fabiola Antezana, além da retirada de direitos, a reforma trabalhista e a terceirização vêm para penalizar ainda mais as mulheres. “Somos nós as mais impactadas com as terceirizações e demissões”. Ela destaca ainda as relações políticas. “É só ouvir o que o pré-candidato à Presidência, Bolsonaro, diz em relação às mulheres, que não contrataria uma mulher por conta da gestação. Esse pensamento retrógrado tem ganhado força na política que determina nossas vidas”, afirma Antezana.

Privatização e retrocesso

“A privatização de serviços estratégicos agrava ainda mais a situação já difícil das mulheres. Historicamente é delegada à mulher a tarefa do cuidado da casa e dos familiares e quando o acesso a água é negado ou a qualidade é precária, aumenta a sobrecarga de trabalho. Além disso, quando não temos acesso a este bem, a geração de renda das mulheres e a autonomia financeira ficam seriamente comprometidas, pois são impedidas de plantar, pescar ou garimpar” aponta Honh.

De acordo com Antezana, na luta contra a privatização do setor elétrico as mulheres também serão as mais penalizadas. “Cresce o número de famílias chefiadas apenas pelo sexo feminino. O aumento na conta de energia exigirá uma contenção no uso deste bem que passará por uma redução no uso de eletrodomésticos que vieram a facilitar ou ajudar a vida moderna da mulher, já que a divisão de tarefas domésticas não andou de mãos dadas com a emancipação feminina”.

Elas concluem que não há outra alternativa a não ser continuar em marcha, erguendo o legado das lutadoras que as antecederam. “Nossa ousadia, nos faz acreditar que juntas podemos construir um projeto de sociedade diferente, onde mulheres, água e energia não são mercadorias”, conclui a coordenadora do MAB.

Publicado originalmente no jornal Energia Alerta – Edição 42.