O APAGÃO CHINÊS: Maior apagão da história do Brasil, 70 milhões de pessoas atingidas.

Ontem (21/03), grande parte do Brasil ficou às escuras, devido a um problema técnico ocorrido no Sistema Interligado Nacional – SIN, que culminou, segundo se apurou, no maior apagão da história do Brasil, deixando 14 estados parcialmente às escuras, alcançando 70 milhões de pessoas.

Tal problema traz à tona uma discussão necessária, que é sobre o processo de privatização do Setor Elétrico Estatal.

As diversas manchetes, no afã de trazerem informa-ções em primeira mão, não conseguiram definir clara-mente o problema, e deram margem para todo o tipo de especulação, inclusive com informações desencontradas por parte do próprio ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho que, como sabemos, pouco sabe sobre o setor, ao dizer que “o apagão ocorreu após uma falha na usina de Belo Monte, no Pará”, enquanto a Celpa (Centrais Elétricas do Pará) informou que “um problema na geração de energia da usina de Tucuruí, pode ter causado o apagão”.

Depois de uma apuração mais detalhada, constatou-se que o problema se deu na Subestação Xingu, na saída da Linha de Transmissão de Corrente Contínua, da empresa Belo Monte Transmissora de Energia – BMTE que, ao contrário do que se chegou a afirmar, não pertence à Eletrobras Eletronorte e não é em Tucuruí. Segundo informações técnicas, durante testes na referida linha de transmissão, que transmitia 4GW de carga, houve uma falha, e a linha acabou saindo de serviço. Como a carga era muito alta, seu desligamento acidental provocou uma reação em cadeia. Segundo a página do ONS, a falha do disjuntor da linha na subestação Xingu, no Pará, ocorreu às 15h48 do dia 21/03/18. Em consequência, houve o desligamento automático de diversas linhas de transmissão em 500 kV, componentes dos troncos de interligação Norte/Nordeste/Centro-Oeste, Linhas de Corrente Alternada de Tucuruí-Manaus e Tucuruí-Vila do Conde, Linha de Corrente Contínua de ±800 kV Xingu-Estreito, entre outros, acarretando uma queda de carga no SIN da ordem de 18 GW (18 mil MW).

Como se vê, a empresa estatal Eletrobras Eletronorte não teve qualquer responsabilidade com o apagão, pois a SE Xingu é operada e mantida pela concessionária Linhas de Xingu Transmissora de Energia (controlada pelo Grupo Espanhol Isolux), e a LT CC ±800kV Xingu-Estreito é de responsabilidade da BMTE, que é uma concessionária do Grupo State Grid (Chinesa), justamente aquele que quer comprar a Eletrobras.

Entendemos que, em um momento como esse, é oportuno montar um grupo de técnicos, por iniciativa do Congresso Nacional, no âmbito das comissões dos projetos de lei que estão tramitando, para analisar as causas da ocorrência e do blecaute, assim como sobre as responsabilidades relacionadas, visto que este fato poderá servir para nortear as decisões sobre o processo de privatização do grupo Eletrobras.

As inúmeras propostas de privatização da Eletrobras que chegaram ao congresso, tanto o PL 9463/2018 como a MP 814/2017, tratam o bem público Energia Elétrica como mercadoria, e isso vem sendo denunciado pelos trabalhadores em campanhas publicitárias, nos debates, nas mobilizações que têm feito em todos os cantos do país.

Deve-se levar em consideração, principalmente, os interesses decorrentes do envolvimento e as responsa-bilidades de diversos agentes privados e estatais de Geração, Transmissão e Distribuição, dentre os quais principalmente, a gigantesca chinesa State Grid. Há que se avaliar, também, a atuação do ONS, nos seus estudos sistêmicos, na operação, programação de testes de manutenções do sistema.

Também precisam responder pela atual vulnerabilidade do SIN a Empresa de Pesquisa Energética – EPE e a Aneel, envolvidas no planejamento da expansão da usinas de geração e linhas de transmissão, e na regulação e fiscalização das obras, justamente pela não construção de 5000 km de Linhas de Transmissão pela empresa privada Abengoa; Diga-se, de passagem, que a ANEEL impõe pesadas multas às empresas nacionais, quando acontecem eventos dessa natureza, todavia, a informação que recebemos é que não haverá multa para a empresa do grupo State Grid.

Por fim, é preciso denunciar a omissão das grandes empresas de informação, sobre as responsabilidade pela concessão da Subestação Xingu, pelo seu projeto, pelos contratos de fornecimento, e pela própria operação.

Os equipamentos que apresentaram falha tiveram projeto, fornecimento, montagem, testes e colocação em operação pelos chineses da State Grid.

Toda essa situação demonstra que privatizar um setor estratégico, como o setor energético, e deixar a vida da população, a economia, a indústria sujeita a interesses privados, que visam o lucro em detrimento do bem público, é a pior das escolhas para o nosso país.

Isso nos faz lembrar do desastre ambiental de Mariana, até hoje sem a devida punição aos culpados.

A energia elétrica não pode ser vista somente como mercadoria, e a Eletrobras não deve servir como um mero ativo a ser vendido, para fechar o rombo fiscal criado pelo próprio governo, e que agora começa a mostrar o quanto nos está deixando vulneráveis.

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