A ciência busca compreender e quantificar os impactos do desequilíbrio ambiental na vida do homem e sua responsabilidade nesse processo desde que se começou a falar com mais responsabilidade em meio ambiente. Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de sistemas supercomplexos a fim de antecipar desastres naturais e soluções viáveis para a preservação. Mas o que acontece ao se tentar traduzir essa realidade de forma dinâmica a crianças e jovens? Com esse objetivo, professores da Universidade de Brasília (UnB) e outras sete instituições da União Europeia desenvolveram o software DynaLearn de inteligência artificial (IA) para a educação ambiental. Hoje e amanhã, pesquisadores envolvidos no projeto, iniciado em 2009, promovem o Workshop DynaLearn, em que a nova ferramenta será apresentada a professores, acadêmicos e graduandos. O evento será realizado no auditório da Faculdade de Comunicação da UnB, a partir das 9h nos dois dias.

Voltado para professores e alunos do ensino médio, o programa simula causas e consequências de determinados eventos do meio ambiente, principalmente aqueles ligados a desmatamento, acúmulo de lixo, aumento da taxa de doenças virais, erosão, dentre outros. O objetivo é levar às salas de aula maior interatividade para o aprendizado de biologia, física, química, raciocínio lógico, atualidades, geografia e história.

A partir do programa, o aluno poderá analisar diversas variáveis ligadas às ações do homem e às ações naturais de impacto ambiental, das mais simples às mais complexas. “O diferencial desse projeto é a simplicidade com que ele ensina o estudante. O próprio aluno poderá criar, à frente do computador, esses diagramas, chamados de modelos, e analisar cada ação e reação gerada a partir de uma alteração do ecossistema, natural ou causada pelo homem”, explica Paulo Salles, coordenador do projeto DynaLearn no Brasil e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UnB.

Fátima Brandão, professora do Departamento de Ciência da Computação da UnB (CIC), ressalta a importância dessa nova ferramenta, criada com apoio de pesquisadores de Israel, Alemanha, Áustria, Holanda, Inglaterra, Bulgária e Espanha. “A possibilidade de tornar cada vez mais acessível a professores e estudantes a discussão sobre o papel do homem na preservação de nossos ecossistemas é ótima, principalmente em tempos como os atuais. É papel da educação se preocupar com a formação desses jovens e essa proposta veio para agregar as pesquisas que já vem sendo feitas na área”, afirma.

Rafael Perciani, 22 anos, recém-formado pela UnB e pós-graduando na área de Inteligência Artificial, confirma a relevância do projeto para o meio acadêmico. “É genial poder trabalhar em um projeto em que estudantes mais novos passam a conviver com softwares complexos como esse.”

SAIBA MAIS
Entenda o modelo

Ao contrário do que muitos imaginam, o objetivo da Inteligência Artificial (IA) não é reproduzir o modelo humano, mas implementar, nas máquinas, capacidade para a realização de tarefas que requerem algum tipo de inteligência e, dessa forma, estendê-la para além dos limites biológicos. O desenvolvimento da IA está voltado para a construção de agentes inteligentes, podendo se dividir em dois campos: de um lado, estão as máquinas, capazes de explorar aspectos da percepção, robôs cada vez mais elaborados no sentido tecnológico; do outro, os chamados sistemas especialistas, programas de computador que desempenham tarefas especializadas como realizar diagnósticos médicos, monitorar outros sistemas, controlar o funcionamento de algum sistema — como o DynaLearn.

Esses programas têm a capacidade de pensar qualitativamente a respeito das propriedades físicas de determinado ambiente, por exemplo, não se limitando a dados matemáticos e buscando compreender o significado das informações que lhes são oferecidas. Esses modelos não substituem os dados matemáticos, mas permitem o melhor uso de informações incompletas e imprecisas que não se limitam aos números.

No âmbito da educação, a IA tem crescido de forma acelerada, segundo o pesquisador holandês Bert Bredeweg, um dos idealizadores do projeto DynaLearn. “Estamos perto de ter ambientes de aprendizagem que poderão comunicar conhecimentos de diversas maneiras. John Self, um dos mais importantes pesquisadores das aplicações da IA na educação, usou o termo Gymnasium Cognitivo, um ambiente em que as pessoas poderiam treinar diversos aspectos da cognição, como fazem num ginásio de esportes”, afirma. Segundo o pesquisador, em um futuro pouco distante, programas de computador poderão oferecer aos estudantes o treino de analogias, inferências lógicas, representações espaciais, raciocínio matemático, dentre outros. (RP)

SERVIÇO
Demonstrações e palestras sobre o uso da inteligência artificial na educação, hoje e amanhã. Auditório da Faculdade de Comunicação da UnB, ICC Ala Norte. Das às 9h às 18h30, no dia 3, e das 9h às 17h30, no dia 4. Entrada gratuita. A programação completa está disponível no site www.correiobraziliense.com.br/euestudante.

(Rayanne Portugal, Correio Braziliense)