Hoje o mundo se une na luta contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Apesar dos avanços medicinais e da conscientização da população, o preconceito, o difícil acesso a exames e as complicações oriundas do coquetel de remédios para o tratamento ainda são os principais desafios enfrentados pelos portadores do vírus HIV. A realidade do Distrito Federal acompanha a média nacional. De janeiro a agosto deste ano, foram registrados 115 novos casos de imunodeficiência na capital federal, uma média de 14 por mês. Ano passado, foram 303 registros, média mensal de 25. A aparente queda, no entanto, mantém o estado e as instituições sociais em alerta. No Dia Mundial da Luta Contra a Aids, os grupos dão as mãos para informar a população e distribuir preservativos em vários pontos do DF — principalmente na Rodoviária do Plano Piloto.

O perfil do portador de Aids se mantém na evolução da série histórica. Segundo dados da Secretaria de Saúde, dos 115 casos registrados este ano, 81 são homens e 34, mulheres. O documento mostra, ainda, que a infecção manifesta os primeiros sinais em pessoas com mais de 20 anos e menos de 50. No caso do sexo masculino, 87% descobriram ter a imunodeficiência nesta faixa etária. No quadro feminino, os índices chegam a 79%.

Os homossexuais ainda são os principais transmissores do vírus, conforme o levantamento. Quarenta e três registros foram realizados em homens que mantêm relações sexuais com outros homens, enquanto 20 casos são heterossexuais. Grande parte das pessoas morrem em decorrência das doenças oportunistas entre os 30 e os 39 anos. Este ano, 56 óbitos foram registrados, contra 116 no ano passado.

A campanha contra a disseminação da Aids deste ano prioriza os jovens. “Os jovens continuam sendo proporcionalmente o segmento mais infectado. Mas os casos envolvendo homossexuais continuam crescendo mais do que o restante da população”, avaliou o coordenador do Polo de Prevenção de DST/Aids da Universidade de Brasília (UnB), Mário Ângelo Silva. Segundo ele, o sucateamento da rede pública de saúde dificulta o tratamento e a prevenção dos setores infectados da sociedade. “Os pacientes têm problemas para marcar consultas com especialistas, uma vez que a síndrome é composta de uma série de doenças oportunistas”, explicou.

Rotina
A rotina da pessoa muda com a descoberta da infecção. A primeira sensação, conforme alguns depoimentos, é a proximidade com a morte. Para manter a qualidade de vida, o paciente deve seguir uma dieta e ingerir remédios “traiçoeiros”. Os medicamentos, que causam náuseas, vômitos, diarreias e até mesmo a deformação física do corpo, afastam muitas pessoas do tratamento correto. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Combate à Aids Grupo Arco-Íris, Antônio Lisboa Gonçalves, lipoatrofia e lipodistrofia deslocam gordura de partes do corpo para outras regiões, modificando o corpo do soropositivo. “A pessoa acaba desestimulada”, afirmou. Lisboa explica que as alterações expõem a pessoa que, muitas vezes, esconde a síndrome da sociedade para evitar preconceito.

A ONG Vida Positiva, instituição que cuida de crianças e jovens portadoras do vírus, cuida de 19 jovens com Aids. A dona da instituição, Vicky Tavares, mais conhecida como Vovó Vicky, garante que as cargas virais dos pacientes estão zeradas, mas o preconceito ainda é o maior vilão dos adolescentes. “Há quatro anos, nenhum tem doenças oportunistas. O grande mistério é o horário britânico para os remédios, a alimentação boa e o amor”, explicou.

DEPOIMENTO

“A Aids, hoje, é uma doença que não causa tanto pânico aos portadores graças ao esclarecimento da mídia. Fico pensando sobre tudo o que passei nestes 21 anos com a falta de informação, preconceito a ponto de as pessoas não apertarem a minha mão, não se sentarem na mesma cadeira que eu, não bebiam no mesmo copo que eu e não me convidavam para nada achando que eu poderia contaminar alguém. Enfim, era tudo ‘não’. Tive que mostrar em gestos que eu fazia o uso da medicação correta, procurava trabalhar decentemente e buscar conforto apesar de tudo o que acontecia comigo naquele momento. Vi amigos morrerem porque não queriam tomar o coquetel achando que estavam com a morte marcada e o coquetel não faria efeito. Um grande erro deles. Eu consegui mostrar aos que se comprometeram a me ajudar que faria tudo da forma correta, respeitaria horários, teria disciplina, alimentação adequada, sexo seguro, me fazendo viver como uma pessoa normal. Hoje, ninguém mais morre de HIV, e sim pelo psicológico, pois são pessoas que se entregam sem ter a mínima vontade de viver. Espero que essa minha mensagem signifique uma forma de que as pessoas que venham a descobrir agora que são portadoras não se desesperem e encarem com naturalidade a situação, seguindo o processo de exames, medicamento e alimentação com a devida responsabilidade.”
Wanderley Estrella, 47 anos, cabeleireiro

SAIBA MAIS

O que é a Aids?
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é uma doença infecciosa causada pelo vírus da imunodeficiência, o HIV. O portador da Aids fica com um sistema imunológico deficiente, abrindo portas do organismo para doenças oportunistas.

Quais as formas de transmissão?
A Aids pode ser passada por meio de relações sexuais, no compartilhamento de seringas, durante a gravidez, pelo leite materno e exposição de material contaminado. Em alguns casos, a pessoa tem o vírus HIV, mas a imunodeficiência pode demorar até 10 anos para se manifestar.

Quais são os principais sintomas?
Os primeiros sinais aparecem poucas semanas após a contaminação, incluindo febre, calafrios, dor de cabeça, dores no corpo, ínguas e manchas na pele. A partir de então, a infecção é assintomática e não tem demonstrações aparentes. A manifestação mais grave se apresenta quando doenças oportunistas aparecem com frequência, como tumores e doenças tropicais.

Como é feito o diagnóstico?
Por exame de sangue.

Como é o tratamento?
A Aids não tem cura. Ao longo dos últimos anos, foram desenvolvidos remédios que se mostraram eficazes na diminuição dos sintomas da doença. Dessa forma, os portadores do vírus conseguem ter qualidade de vida e uma maior sobrevida. As medicações devem ser respeitadas e o portador deve se cuidar, com boa alimentação. O abandono do tratamento ou o uso incorreto da medicação podem levar ao óbito.

Como se prevenir?
O principal jeito de prevenção é o sexo seguro, com preservativos. Seringas devem ser limpas com água sanitária e água corrente, materiais cirúrgicos devem ser desinfectados e esterilizados. Deve-se dar preferência a material descartável. A transmissão da Aids de mãe para filho durante a gravidez pode ser diminuída com uso da medicação antirretroviral.

BALANÇO DOS CASOS

2009
303 casos
224 homens (74%)
79 mulheres (26)
116 mortes

2010 (de janeiro a agosto)
115 casos
81 homens (70,4%)
34 mulheres (29,6%)
56 mortes

PROGRAMAÇÃO

Instituições sociais passarão a tarde de hoje na Rodoviária do Plano Piloto informando a população e distribuindo preservativos. A ONG Amigos da Vida vai aproveitar o dia para comemorar 10 anos de fundação. O presidente da organização, Christiano Ramos, realizará, das 19h às 23h, um coquetel no Memorial JK — o evento não é aberto ao público em geral. Na oportunidade, haverá exposição dos trabalhos de arte e entrega do Troféu Solidariedade.

(Juliana Boechat, Correio Braziliense, 1.°/12/10)

 

Jovens de 15 a 24 anos são foco de campanha contra a aids

Jovens brasileiros de 15 a 24 anos são o foco da campanha O Preconceito como Aspecto de Vulnerabilidade ao HIV/Aids, que será lançada hoje (1º) pelo Ministério da Saúde para marcar o Dia Mundial de Luta contra a Aids.

De acordo com dados do ministério, o grupo tem o maior número de parceiros casuais em relação a adultos e cerca de 40% deles declararam não usar preservativo em todas as relações sexuais.

O objetivo da campanha, segundo o Ministério da Saúde, é a desconstrução do preconceito sobre pessoas que vivem com o vírus HIV no Brasil, além da conscientização de jovens sobre comportamentos seguros de prevenção contra a aids.

Bruna Lopes, de 20 anos, acredita que a campanha é importante para alertar os jovens em relação aos riscos que correm ao ter uma relação sexual sem camisinha. Ela admitiu que sente dificuldade em usar o preservativo quando está em um relacionamento que parece estável. “A gente confia mas, na verdade, é arriscado também”, contou.

Para Silvana Pereira, de 18 anos, falta estratégia para convencer os jovens sobre a importância de se prevenir por meio da camisinha – sobretudo para meninas mais novas. “Todo mundo já sabe, mas continua fazendo. Então, tem alguma coisa errada”, disse. Mesmo casada, Silvana faz o teste rápido de seis em seis meses. “O problema é que confiamos nos parceiros e não usamos camisinha”, afirmou.

Raiane Souza, de 21 anos, confirma a versão de que o que falta mesmo aos jovens não é informação, mas responsabilidade. “Vejo que as meninas não pensam no que estão fazendo. Muitas vezes, vamos na empolgação e, quando vemos, já foi sem camisinha mesmo”.

O Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi instituído como forma de despertar a necessidade de prevenção, de promoção do entendimento sobre a pandemia e de incentivar a análise sobre a aids pela sociedade e órgãos públicos. No Brasil, a data começou a ser comemorada no fim dos anos 80.

(Paula Laboissière, Agência Brasil, 1.°/12/10)

 

Atraso no diagnóstico é desafio para combate à aids no Brasil

Entre os desafios do combate à aids no Brasil, está o atraso no diagnóstico da doença. Para o presidente do Fórum de Organizações Não Governamentais (ONGs) Aids do estado de São Paulo, Rodrigo de Souza Pinheiro, ainda faltam informações e campanhas nesse sentido.

Segundo Pinheiro, o Estado cumpre seu papel de certa forma, mas ainda há muitos desafios. “Um deles é a questão do diagnóstico tardio, muitas pessoas ainda demoram para ser diagnosticadas, então acho que deveríamos ter mais campanhas, mais serviços que pudessem atender e conscientizar a população a fazer o teste de HIV”, afirma.

“Outro grande desafio no Brasil é a inclusão de pessoas soropositivas na sociedade. O preconceito com as pessoas que convivem com HIV/aids é muito grande. Uma das questões que temos trabalhado é para que realmente venha a diminuir essa questão do preconceito e da discriminação”.

O Fórum de ONG’s Aids de São Paulo tem 122 organizações associadas, mas existem outras entidades no estado que atuam no combate à doença. Elas trabalham em parceria com os municípios, para atender populações que o Poder Público não consegue atingir.

Cada ONG tem um tipo de atuação, algumas trabalham com prevenção, outras com direitos humanos, e o fórum faz um trabalho de articulação de políticas públicas. “Temos uma reunião mensal aqui em São Paulo onde são discutidas as questões prioritárias, como falta de medicamentos, e levamos essas questões ao governo. Temos vários tipos de atuação para melhorar a qualidade de vida das pessoas soropositivas”, relata Pinheiro.

De acordo com ele, é importante que as pessoas tenham mais informações sobre a transmissão do vírus HIV. Outra atitude que o fórum está tomando é tentar aprovar na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 6.124/2005 que criminaliza a discriminação de pessoas que vivem com o HIV.

“A questão da prevenção também é um grande desafio, principalmente para as populações mais vulneráveis, e o Estado deixa a desejar nesse sentido. Se a gente analisar, no Brasil temos falhado muito na questão do acesso, tanto das pessoas que vivem com o HIV, quanto das demais que precisam do serviço de saúde. Isso é um grande desafio para o governo que está assumindo. É necessário também facilitar acesso aos preservativos e aos testes. Em alguns estados, principalmente do Norte e Nordeste, isso ainda é muito complicado, e é onde a epidemia tem mostrado um nível de crescimento”.

(Agência Brasil, 1.°/12/10)

 

Cerca de 250 mil brasileiros não sabem que foram infectados por HIV

Brasília – Cerca de 630 mil brasileiros vivem com HIV em todo o país – desses, 255 mil não sabem que foram infectados. Os dados foram divulgados hoje (1º) pelo Ministério da Saúde.
De acordo com a pasta, o número de testes de HIV distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passou de 3,3 milhões, em 2005, para 8,9 milhões em 2009. O índice de testagem para HIV em todo o país, no ano passado, foi de 38,4%.
Maioria dos infectados pelo HIV é branca e com oito a 11 anos de estudo
Brasília – A maioria dos brasileiros com HIV em 2009 é formada por brancos (47,7%). Em seguida, estão os negros (46,8%), os amarelos (0,5%) e os indígenas (0,3%), mostra boletim epidemiológico divulgado hoje (1º) pelo Ministério da Saúde. Segundo o estudo, 4,7% dos pacientes não declararam raça ou cor.
Do total de casos registrados no ano passado (20.832), a maior proporção de infecções está entre brasileiros que têm entre oito e 11 anos de estudo (30%). Em 1999, a incidência era maior entre aqueles com menos escolaridade: 29,5% dos casos foram verificados entre pessoas com até três anos de estudo.
Entre as mulheres infectadas, a média é de quatro a sete de anos de estudo e, entre os homens, de oito a 11.

(Paula Laboissière, Agência Brasil)