“Estamos definindo as características do aparelho, vai depender muito inclusive do custo. Não soltamos ainda o edital porque precisa ter uma definição clara dos pré-requisitos do equipamento. Tem que ter acessibilidade, ser resistente e rodar qualquer conteúdo”, explica Sérgio Gotti, diretor de Formulação de Conteúdos Educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC.
Atualmente, cerca de 500 escolas do país contam com os laptops educacionais do UCA. O MEC calcula que 574 mil equipamentos foram adquiridos por meio do pregão do UCA, seja pelo próprio governo federal ou por prefeituras e governos estaduais – o número inclui máquinas que já foram solicitadas e estão a caminho das escolas. Considerando o total de matrículas na rede pública nos ensinos fundamental e médio, o número de estudantes que têm um computador em mãos hoje dentro da sala de aula representa menos de 2% das matrículas – se cada máquina estiver sendo utilizada individualmente, como previa o projeto original. Segundo Gotti, a intenção nunca foi universalizar o programa e levar os laptops a todos os alunos. O ministério defende que os tablets não virão para substituir os laptops, mas complementar as tecnologias existentes nas escolas.
“As políticas na verdade se complementam e a gente espera universalizar a tecnologia unindo os tablets, os laptops e os computadores de mesa. As tecnologias se somam e a gente trabalha com as alternativas disponíveis dentro da melhor realidade de cada ambiente”, explica o diretor do MEC.
O UCA começou a ser pensado em 2005, mas demorou a sair do papel, e as máquinas só chegaram aos estudantes em 2009. Os primeiros computadores foram distribuídos pelo MEC para alguns municípios e na segunda fase as próprias prefeituras adquiriram os aparelhos por meio de um edital organizado pelo governo que reduziu os custos. O governo ainda não decidiu se irá comprar parte dos tablets com recursos próprios e distribuir para as redes de ensino consideradas prioritários pelo baixo desempenho nas avaliações, como ocorreu com o UCA. Mas o edital para que as prefeituras e os governos estaduais possam comprar os equipamentos se tiverem interesse já está sendo produzido.
Às vésperas da chegada de uma nova tecnologia nas salas de aula das escolas brasileiras, ainda não há uma avaliação oficial dos resultados alcançados pelo UCA em termos de melhoria da qualidade do aprendizado. A percepção nas redes de ensino é que o equipamento desperta grande interesse nos alunos e dá mais motivação, diz Gotti.
“A Universidade Federal do Ceará (UFC) está fazendo esse trabalho de avaliação do UCA, mas não há resultados ainda porque faz pouco tempo que os laptops estão em uso. Mas em geral tem-se constatado que há muito interesse por parte dos alunos no uso do computador em sala de aula que foge daquele modelo tradicional do laboratório de informática. Ele traz um ganho em termos de curiosidade desse aluno que pode pesquisar e entender melhor os conteúdos”, explica.
Neste ano, o MEC divulga o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011, indicador que mede a qualidade do ensino oferecido pelas escolas do país e é calculado a cada dois anos. Com esses dados será possível comparar se houve melhoria no desempenho das escolas que receberam os laptops entre 2009 e 2011.
Laptops ficam guardados sem uso em escola de Brasília por falta de infraestrutura
Brasília – A direção do Centro de Ensino 10 da Ceilândia, cidade da periferia de Brasília (DF), ficou animada quando soube que a escola tinha sido escolhida para participar do programa Um Computador por Aluno (UCA), do governo federal. A expectativa era que os laptops que seriam distribuídos para cada um dos 470 estudantes de ensino fundamental pudessem mudar o dia a dia em sala de aula. Mas o equipamento que tinha potencial para transformar o projeto pedagógico se tornou mero coadjuvante em função das dificuldades estruturais. A internet é muito lenta e não suporta um grande número de acessos simultâneos. Por isso as turmas precisam fazer um “rodízio” e os computadores passam a maior parte do tempo trancados dentro do armário. Em algumas turmas os alunos só usam a máquina uma vez por semana.
Além da internet lenta, outra falha estrutural dificulta a utilização dos laptops: faltam armários nas salas de aula para guardar os equipamentos. No projeto original, cada sala seria equipada com armários específicos para acomodar os computadores. Mas os móveis nunca chegaram e por isso a escola armazena quase metade dos equipamentos recebidos em um armário que fica no laboratório e tem cadeados para garantir que os aparelhos não sejam furtados. Com isso, as máquinas que eram para ser de uso individual são dividas pelas turmas do turno da manhã e da tarde.
“Nós tivemos que fazer algumas adaptações. Como não tínhamos onde guardar, nós pegamos parte dos computadores e deixamos no armário que tem cadeado. No começo todos os dias nós trazíamos do laboratório para a sala de aula e devolvíamos no final, mas a gente perdia muito tempo nesse trânsito. Por isso pelo menos 100 computadores dos 470 que recebemos ficam guardados lá sem uso”, explica a supervisora pedagógica, Cláudia Sousa.
No Distrito Federal, apenas sete escolas foram beneficiadas pelo programa do Ministério da Educação (MEC). À Secretaria de Educação do DF cabia o apoio técnico para que o projeto estivesse em pleno funcionamento. Mas a escola ainda não conseguiu contar com o órgão para resolver simples problemas como o dos armários. Cláudia acredita que as dificuldades impedem que o projeto seja explorado em todo o seu potencial. Segundo ela, a experiência é, às vezes, frustrante – tanto para professores como para alunos.
“Acho que poderia ser muito mais rico. Tem dia que a internet não funciona e às vezes o professor preparou uma aula e sai todo mundo frustrado porque o trabalho não pode ser feito. O professor, na verdade, tem a faca e o queijo na mão porque embora alguns tenham resistência ao uso do computador, os alunos caminham com as próprias pernas. Só que a gente esbarra nos problemas”, diz.
O UCA já está passando por uma segunda fase. Agora, os laptops não são mais distribuídos pelo MEC, mas podem ser adquiridos por prefeituras e governos estaduais, com recursos próprios e a preços reduzidos. O diretor de Formulação de Conteúdos Educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC, Sérgio Gotti, alerta que se não houver a infraestrutura necessária para apoiar o projeto, a compra dos computadores vira “um tiro no pé”.
“A aquisição pelos estados e municípios tem que ser uma escolha muito consciente. Se as escolas não têm estrutura suficiente para suportar, não têm conectividade, ele [o laptop] não vai ser trabalhado dentro de todo o seu potencial. Eles não ficam encostados porque, de alguma forma, são utilizados, mas acaba que você não tem o efeito desejado”, diz.
Mesmo com as dificuldades, Cláudia conta que o impacto do UCA no aprendizado é positivo. Os alunos ficam mais motivados porque têm outra ferramenta à disposição além dos livros e do quadro negro. “No dia do UCA ninguém falta”, diz. Cada professor escolhe como e quantas vezes por semana irá utilizar os laptops – com exceção da internet que segue um cronograma de uso para cada turma. Os alunos fazem pesquisas sobre os conteúdos que estão sendo desenvolvidos em sala ou brincam com os jogos educativos que já vêm instalados na máquina.
“A gente costuma entrar nos jogos ou pesquisar imagens. Mas antes tem que mostrar para a professora porque ela tem medo que a gente entre em site de namoro”, conta a aluna Mariana Santos, 9 anos, aluna do 4° ano do ensino fundamental . “Ele [o computador] é muito lento, o da minha casa é mais rápido. Mesmo assim, a gente queria usar mais na sala de aula”, completa a aluna.
O secretário de modernização e tecnologia da Secretaria de Educação do DF, Luiz Roberto Moselli, avalia que foi um “erro” não garantir a infraestrutura necessária ao projeto na época em que os computadores foram entregues. Segundo ele, o órgão começará em 2012 um projeto para garantir a conectividade em 100% das escolas, com velocidade maior do que atual.
“Estamos fazendo um plano diretor de informática para inserir a tecnologia na educação de forma bastante ambiciosa”, diz. De acordo com ele, o pedido dos armários já foi feito, mas como as peças serão fabricadas sob medida, o CEF 10 da Ceilândia começará o ano letivo ainda sem os móveis, que devem chegar até o fim do primeiro semestre.
(Amanda Cieglinski, Agência Brasil, 30.01.12)
