Entre março e julho deste ano, foram registradas 1.378 reclamações na Aneel sobre os serviços prestados pela Neoenergia Brasília – Foto: Agência Brasil

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), bateu o martelo da privatização da Companhia Energética de Brasília (CEB) em 4 de dezembro de 2020. Do anúncio, até a realização do leilão para a venda da distribuidora, o governador defendia que o serviço de distribuição de energia ficaria melhor a cargo da iniciativa privada. A reação da população aponta o contrário.

Entre março e julho deste ano, foram registradas 1.378 reclamações na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relação aos serviços prestados pela Neoenergia Brasília. O número representa um aumento de 58% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o registro foi de 872 e a prestação do serviço estava sob gestão da CEB Distribuição. No topo das reclamações contra a empresa, está a falta de energia.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Urbanitários no DF (STIU-DF), João Carlos Dias, quando o governador, “traindo promessa de campanha eleitoral, anunciou a privatização da CEB Distribuição, já era possível antever o prejuízo à população do DF, sobretudo quanto à qualidade do atendimento e do fornecimento de energia elétrica na capital do país” destaca.

Ele aponta que um dos argumentos utilizado à época pelo Sindicato, que organizou a luta contra a privatização da distribuidora, foi a experiência dos estados que viveram o mesmo processo, a exemplo de Goiás, “onde os consumidores passaram a sofrer,  invariavelmente, com a falta de energia , o atendimento ruim e encarecimento da conta de luz”.

Na campanha eleitoral de 2018, ainda candidato, Ibaneis Rocha assinou uma carta compromisso, registrada em cartório, garantindo que não privatizaria a CEB Distribuição.

“Passados cinco meses, o que se assiste é a confirmação da regra. As reclamações dos consumidores aumentaram e, embora a nova concessionária tenha simplesmente triplicado seus lucros no primeiro semestre deste ano, com resultado de R$ 59 milhões, o que se pergunta é qual o benefício desse resultado para a população do DF?”, indaga o sindicalista.

A Neoenergia Brasília alega que no quantitativo total de reclamações registradas, 182 se referem à falta de energia, sendo a maioria oriundas de casos fortuitos como tempestades tropicais, furtos de cabos e a perfuração realizada por terceiros na rede subterrânea.

A concessionária informa ainda que o órgão regulador também mede a frequência de reclamações procedentes nas concessionárias de energia do país por meio do indicador denominado de FER (frequência de reclamações), e que em 2021, a Neoenergia Brasília teria melhorado em 21% no indicador, na comparação com 2020.

Aumentos 

André Dória, morador do DF, expôs em uma rede social um comparativo entre duas faturas de energia e mostra que houve aumento no valor cobrado, embora os “hábitos de consumo permaneçam os mesmos”. A primeira conta, medida pela CEB em setembro de 2020, apresenta consumo mensal de 345 KWh e custo de R$ 251,26, a outra, emitida em setembro deste ano pela Neoenergia, aponta consumo de 347 KWh e  custo de R$ 312,26.

Ele denuncia que hoje paga “R$ 312,00 por 2 KWh a mais” e questiona se “essas são as benesses da privatização?”.

Consumidor compara valor das contas de energia, após a privatização da CEB / André Dória.

Controlada pela espanhola Iberdrola, a Neonergia Brasília apresentou à Aneel proposta de revisão tarifária periódica com impacto de 10,70% na conta de luz dos consumidores residenciais.

Em audiência pública para discutir o assunto, a Agência Nacional indicou que o número é preliminar. “Os valores definitivos serão aprovados após análise das contribuições recebidas antes de entrarem em vigor, no dia 22 de outubro deste ano”, escreveu em nota.

Publicado originalmente no Brasil de Fato DF.