Acordo secreto, que beneficiaria empresa ligada ao clã Bolsonaro, já resultou na renúncia do ministro de Relações Exteriores e em pedido de impeachment do presidente do Paraguai.

Conversas particulares vazadas do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez revelam que o governo de Jair Bolsonaro pressionou economicamente o Paraguay para “tirar vantagens” do acordo secreto envolvendo a Usina Hidrelétrica Itaipu. Tanto o presidente Benítez quanto o ex-chanceler, Luis Castiglioni – que caiu em meio ao escândalo – disseram que não sabiam o que foi assinado ou o que foi excluído do acordo bilateral, segundo informações do jornal ABC, do Paraguai, nesta quarta-feira (7).

As mensagens são trocadas entre o presidente Benítez e o então diretor da Administração Nacional de Eletricidade (ANDE), Pedro Ferreira. Nelas, o presidente paraguaio confessa que o país vive momentos difíceis e que o Brasil congelou relações “por não cumprirmos o que firmamos”. Em seguida, Pedro Ferreira responde que o que pediram foi “18% de crescimento anual” e que seria impossível, “seriamos queimados publicamente”, completa.

Em dezembro do ano passado, a estatal brasileira Eletrobras se negou a pagar a fatura de outubro do mesmo ano, deixando uma dívida de 54,9 milhões de dólares da estatal brasileira. Dessa forma, o Brasil passou a pressionar o Paraguay para abaixar os preços da contratação de energia da Eletrobras. Nas conversas de março deste ano, é possível ver que Benítez menciona que na Eletrobras “está tudo parado” e que Itaipu seria “uma ferramenta”, pressionando Ferreira para que encontre uma solução para o impasse.

No entanto, ainda de acordo com o jornal ABC Color, os técnicos da ANDE não participaram da definição do acordo bilateral envolvendo a usina. Em maio deste ano, época em que foi firmado o acordo, Joselo Rodríguez, assessor jurídico informal do vice-presidente Hugo Velázquéz, chegou a enviar uma mensagem dizendo que não deveriam incluir um dos pontos do acordo porque não seria conveniente para o Paraguay.

A reunião se deu em Brasília um dia depois, em 24 de março, e dela participaram Sánchez Tillería, ex-diretor técnico de Itaipu, Alcides Jiménez, ex-assessor energético da ANDE, e Hugo Saguier Caballero, ex-embaixador paraguaio no Brasil. De acordo com o ABC Color, tanto o chanceler Castiglioni quanto o presidente paraguaio Benítez disseram que o acordo foi firmado sem o consentimento dos mesmos.

No dia 24 de julho, o embaixador Federico González pediu mais uma vez a Pedro Ferreira, então presidente da ANDE, para que firmasse e consumasse o contrato do acordo bilateral. Ferreira se negou e apresentou sua renúncia. Também renunciaram o ministro de Relações Exteriores, Luis Castiglioni, e dois outros funcionários do alto escalão.

Revista Fórum