“É um dia de mobilização para chamar a atenção da sociedade contra o desmonte da Eletrobras”, declarou Ikaro Chaves, do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), sobre as manifestações realizadas nesta terça-feira (17) no Piauí, Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre. As distribuidoras da Eletrobras localizadas nestes estados são alvo de um processo de privatização acelerado implementado pelo governo de Michel Temer. Trabalhadores pediram a saída do presidente da empresa, Wilson Pinto.

Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, Ikaro, que é diretor do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU/DF), afirmou que são “extremamente graves” as experiências de distribuidoras privatizadas em outros estados. O leilão das distribuidoras previsto para acontecer dia 26 foi suspenso por decisão liminar da 19ª Vara Federal do Rio de Janeiro, na quinta-feira passada (12).

Confira trechos das declarações do dirigente:

Como vocês avaliam suspensão oficial das distribuidoras da Eletrobras, é uma vitória parcial?

Desde que foi anunciada a privatização, em agosto de 2017, nós temos feito uma intensa mobilização esclarecendo à sociedade, principalmente através das redes sociais e também no Parlamento, onde temos contado quase que com a dedicação total de vários parlamentares da oposição.

Na terça-feira passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que o processo legislativo para a privatização da Eletrobras em si, estaria suspenso. Essa foi uma vitória espetacular nossa. O governo reconheceu que não tinha condições de aprovar essa privatização no Congresso.

O processo da privatização das distribuidoras corre em paralelo. O governo julga que é mais fácil, porque como são menos estados, são menos parlamentares se mobilizando contra. Só que mesmo isso tá muito difícil aprovar. No Senado, onde o projeto deve tramitar a partir de agosto, o rechaço à privatização das distribuidoras é muito grande. Essa suspensão é uma vitória também, porque ela se dá no contexto de uma decisão judicial em caráter liminar que suspendeu. Essa liminar é baseada na decisão do ministro [do STF] Ricardo Lewandovsky, que colocou no começo de julho que era necessária autorização específica pra cada privatização que fosse feita.

Como a privatização de uma distribuidora pode afetar na prática a população?

O brasileiro tem sentido na pele, na maioria dos estados, o que a privatização significou. O processo de privatização das distribuidoras começou nos anos 1990, nos governos do Collor, do Itamar e do Fernando Henrique.

Então, a maioria das distribuidoras já foi privatizada. E nós vivemos situações extremamente graves em alguns desses estados: aumento na conta de luz, piora na qualidade dos serviços; e em muitos estados, como por exemplo, o Mato Grosso, o campeão de reclamações no Procon é justamente a distribuidora. Aqui no estado de Goiás, onde foi feita a privatização há pouco mais de um ano, todos os índices de qualidade da antiga Celg, que foi privatizada por um grupo italiano, caíram: o tempo para o religamento, quando existe desligamento da rede, aumentou muito, e a tarifa aumentou de uma vez só, 17%.

Agora, nos estados da Amazônia, e os estados do Nordeste que são estados muito pobres, principalmente Piauí e Alagoas, que têm os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, a situação é ainda mais grave. Por exemplo, na Amazônia, levar energia elétrica para regiões isoladas no meio da floresta é algo custoso, que não dá retorno financeiro, então por isso que é necessário que a distribuição de energia elétrica nessas regiões seja encarada como um serviço de utilidade pública.

Fonte: Vermelho